Começamos a ver luz no fim do túnel. A crise financeira que assolou o nosso país nos últimos 3 anos parece dar sinais de trégua. O que precisamos decidir é se vamos virar a página e pular fora desse buraco, ou vamos continuar remexendo e sobrevivendo de reflexos da crise.
Tentar tirar proveito desta situação, nem sempre é indicado. O que parece uma boa oportunidade pode ser, na verdade, uma armadilha aos empresários, que acaba reforçando o ciclo vicioso da crise.
Um bom exemplo está relacionado ao acúmulo de estoques de alguns fabricantes/importadores. O fornecedor que não ajustou suas compras a demanda na época das vacas magras, hoje está sentado sobre um estoque “bomba-relógio” prestes a explodir!
Nos referimos a um estoque de produtos com curta validade, que precisa ser passado adiante. É como uma batata quente que o fornecedor quer tirar da sua mão e jogar no comércio! Para isso, ele abaixa os preços, dá brindes, estende o prazo de pagamento, qualquer coisa para se ver livre daquilo!
O problema maquiado como uma oportunidade é bastante tentador e acaba por atrair interessados. Porém, fique atento, o que parece ser uma grande oportunidade pode ser uma grande armadilha!
Via de regra, negociar produtos com baixo vencimento não é uma boa estratégia:
1-) Diminuição de Preço e de Lucro
Você paga menos em um produto com vencimento próximo, mas também irá vendê-lo mais barato. Indiferente do percentual de Mark-Up, quando você compra mais barato para vender mais barato, geralmente o lucro real (ou seja, a lucro financeiro em Reais) acaba sendo menor.
Exemplo:
Ou seja, o lojista fez uma opção que aumentou o mark-up mas reduziu o seu lucro real em R$ 20,00 que representa mais de 20%.
Isso nos faz pensar: Se o lojista tem opção de oferecer ao seu cliente um produto “normal” (longa validade) e ter um lucro bruto maior, por que entra nessa fria?
Provavelmente, ele foi seduzido pela sensação de comprar mais barato com a esperança de vender mais, a um preço menor, o que normalmente não acontece.
É pior do que aparenta…
Pior do que ter um lucro menor, é não ganhar nada e ainda perder o capital que investiu na compra destes itens com baixa validade. Com esse receio, o lojista passa a se esforçar para vender mais rapidamente aquela “bomba relógio” adquirida.
Assim, para todos os clientes que entram na sua loja, ao invés do vendedor oferecer um produto fresco, melhor e com uma margem maior para a loja, ele acaba oferecendo sempre aquele produto viciado.
O lojista caiu na armadilha. O fornecedor conseguiu passar a batata quente e agora é a vez do lojista tentar repassar para o seu cliente consumidor, antes que a mesma queime suas mãos!
Mantendo o mesmo exemplo acima, o lojista trocou um lucro bruto de R$ 120 por R$ 100.
Supondo que ele venda 200 potes: ao invés de R$ 24.000 o seu lucro bruto será de R$ 20.000. Para alcançarmos o lucro líquido, precisamos retirar do lucro bruto as despesas fixas da empresa (aluguel, funcionários, luz, etc.) e os impostos (~15%).
Para ilustrar, digamos que esse lojista tenha R$ 15.000 de despesas fixas.
O resultado seria:
Ou seja o lojista poderia ter um lucro final 170% maior se não tivesse caído na armadilha!
Mas, nada é tão ruim que não possa piorar…
2-) Risco de perder o capital investido:
O cálculo acima expõe a condição do lojista conseguir vender todo o seu estoque investido em produtos com baixo vencimento, no preço programado. Mas na real, o que acontece é que o tempo passa e ao se aproximar do término de validade o lojista vai reduzindo o valor final do produto, prejudicando cada vez mais o seu retorno, simplesmente para não perder tudo.
Faltando 60 dias para a validade o preço cai de R$ 199 para R$ 179, faltando 30 dias cai novamente e vai para R$ 149, até o momento em que ele estará tentando vender pelo mesmo preço que comprou, somente para não contabilizar prejuízo real.
Todos os clientes que entraram na sua loja deixaram de ter um apontamento ideal, de um produto fresco e financeiramente saudável para o lojista, recebendo somente um apelo desesperado de compra de um produto velho, como se aquilo fosse um grande negócio.
Não é. Não é nem para o lojista e nem para o consumidor. Todos perderam.
3-) Risco do Produto estar danificado
Em tese, o produto é fabricado para estar em perfeitas condições até o final da sua validade. Porém, para isso ocorrer, uma série de condicionantes é essencial.
Quem pode garantir que durante todo o seu tempo de validade o produto foi armazenado corretamente? Ficou em local adequado, longe de umidade, longe do sol, longe do calor…
Mesmo que tudo tenha sido armazenado corretamente por anos, via de regra, as propriedades nutricionais podem até estar intactas, mas certamente o sabor e aparência do produto não são mais a mesma coisa. Os flavorizantes sofrem com a ação do tempo mais do que os outros ingredientes. Um suplemento proteico recém-fabricado, certamente tem um frescor no aroma diferente daquele produzido há 2 ou 3 anos…
Aminoácidos são muito susceptíveis ao calor e umidade. Estocados em local inadequado por um curto espaço de tempo, fará com que empedrem com facilidade.
4-) A Imagem do seu negócio
Credibilidade é algo que se demora a conquistar mas se perde em um piscar de olhos.
Você investiu na imagem do seu negócio; você conquistou clientes que confiam em você; quanto isso vale?
Vale muito.
É isso que diferencia você de tantas outras empresas e profissionais antiéticos do mercado. É isso que irá garantir o seu sucesso e sua longevidade.
Um cliente insatisfeito comenta a sua insatisfação muito mais do que imagina (ainda mais hoje com as redes sociais, Whataspp, etc.).
Pense bem antes de aceitar a batata quente!
A Conclusão é que aproveitar uma condição promocional de um fornecedor super-estocado e adquirir um lote com baixa validade pode até ser interessante para um pequeno investimento, mas não deve ser, de forma alguma, a sua principal estratégia de ação.
#FICAADICA